Estamos constantemente conectados. Seja através do smartphone ou do portátil, na maioria das vezes (ou mesmo nunca), não conseguimos escapar das bolinhas vermelhas e dos plims das notificações. E isto acontece mesmo a quem não trabalha a full-time em social media ou marketing digital.
“Vício”: talvez seja um termo demasiado forte para descrever a nossa atual obsessão com os nossos telemóveis e redes sociais. Mas, agora que consegui a sua atenção, acho que é importante trazer o debate para as salas de aula sobre as implicações mais amplas e, talvez até, invisíveis da cultura dos telemóveis e das redes sociais na nossa sociedade.
Embora eu não seja especialista em áreas como a saúde mental ou o que constitui o vício em telemóveis, acredito que, enquanto professora e formadora de social media, estou numa posição única para chamar à atenção para a relação entre o uso de redes sociais e a vida na sociedade atual. Além disso, enquanto futuros profissionais de social media, pretendo ensinar truques aos meus alunos para evitarem um burnout das redes sociais.
Com isso em mente, quero partilhar consigo algumas formas que tenho integrado na disciplina de Tecnologias no Marketing e Comunicação Digital, que estou a leccionar na Aveiro Digital School, para colocar os alunos a pensarem sobre o vício dos telemóveis e das redes sociais.
Social Media e Dispositivos Móveis: Desafios e preocupações (Atividades em Sala de Aula)
Debate inicial:
No início da aula, eu lancei a seguinte questão à turma e perguntei se estes concordavam ou não e porquê:
“Tu és tão bom quanto o teu próximo post.”
Em seguida, debatemos a seguinte afirmação:
“O teu telemóvel é como a tua vida. Ou a controlas, ou ela controla-te a ti.”
Depois, todos juntos, analisámos algumas das vantagens e desvantagens das redes sociais, analisando este infográfico sobre como os social media estão a afetar a saúde mental.
Teste Inicial:
Em seguida, pedi aos alunos para fazer um pequeno exercício, onde tinham de escrever numa folha as respostas às seguintes questões:
- Achas que és viciado no teu telemóvel e/ou redes sociais?
- Quais são os 3 principais benefícios que obténs em usar o teu telemóvel?
- Quais são as 2 formas em que o teu telemóvel tem um efeito negativo em ti?
No fim, pedi para dobrarem e virarem a folha para baixo.
Atividade 1:
Ainda antes de avançar, pedi para que todos pegassem nos seus telemóveis e fizessem o seguinte:
- Analisa as tuas 2 últimas publicações que fizeste numa rede social e vê as estatísticas (número de gostos, comentários, partilhas, etc.).
- Anota as emoções que sentiste (Alegria? Tristeza? Raiva? Medo? Surpresa? Afeto? Aversão? Confiança? Ansiedade? Aborrecimento? Indiferença?)
E, em seguida:
- Desliga o telemóvel e guarda-o na mala ou bolso.
- Desliga o computador.
- Pega num papel.
- Agora vamos ver 4 vídeos:
- Sempre que sentires vontade de ver ou de pegar no telemóvel, Pára. Faz uma cruz na folha de papel. Escreve a emoção que sentiste.
Assim, os alunos tinham de prestar atenção ao respectivo hábito de querer ver o telemóvel, ao mesmo tempo que viam os vídeos.
Vídeos
Após a visualização de cada vídeo, mostrei os seguintes pontos para debatermos:
- Quais são os argumentos ou estatísticas apresentadas que foram mais convincentes para ti?
- Com quais discordas?
- Quanto controlo achas que tens sobre a tua utilização do telemóvel?
Os vídeos que selecionei para mostrar na aula foram:
- Cell Phones, Dopamine, and Development: Barbara Jennings at TEDxABQ
- Quit social media | Dr. Cal Newport | TEDxTysons
- I Quit Social Media For 1 Month — And It Was The Best Choice I Ever Made
- This Panda Is Dancing – Time Well Spent
Optei por estes, porque cada um aborda argumentos diferentes relacionados com os dispositivos móveis e as redes sociais. O 3º vídeo é o testemunho de uma senhora que decidiu desligar-se das redes sociais durante um mês depois de ver o 2º vídeo.
Atividade 2:
Depois disso, pedi aos alunos para voltarem a olhar para as questões dadas no teste inicial e a sua previsão de quanto controle sentiam sobre a utilização do telemóvel e para responderem a:
- Quanto controle tens sobre a utilização do teu telemóvel?
- Quantas vezes quiseste ver o telemóvel durante os vídeos?
- Tinhas consciência do quanto dependes do teu telemóvel?
Para terminar, pedi aos alunos que:
- Pensa em 1 coisa que podes fazer entre agora e a próxima aula para restringir a utilização do telemóvel e que esteja relacionado com os efeitos negativos que identificaste.
- Entre esta e a próxima aula, quero que tentes fazer essa 1 coisa.
- Numa escala de 1 (Não de todo) a 10 (Muito provável), quão provável achas que serás bem sucedido nessa 1 coisa?
E depois dei-lhes algumas ferramentas e dicas para testarem.
10 dicas para recuperar o controlo sobre o Telemóvel e as Redes Sociais
Sabendo que as redes sociais abrem um mundo de possibilidades para as marcas, mas que as responsabilidades e expectativas para os profissionais de social media são cada vez mais, o objetivo foi partilhar com os alunos dicas para terem como prioridade a sua saúde mental.
Em primeiro lugar, encorajei os alunos a fazer o download (para os telemóveis que ainda não possuem esta funcionalidade) de aplicações de monitorização da utilização, como as seguintes:
- Moment (iOS e Android)
- RescueTime (Windows e Mac)
Na aula seguinte, pedi-lhes que mostrassem as suas estatísticas de utilização, nomeadamente:
- Média diária de utilização do telemóvel,
- Número de vezes que verificaram o telefone todos os dias;
- Top 3 aplicações utilizadas.
Por fim, dei-lhes algumas dicas adicionais para os ajudar a ganhar o controle sobre a utilização dos seus telemóveis e redes sociais, tendo como base as dicas da organização HumanTech e deste artigo da Hootsuite sobre como evitar um burnout das redes sociais.
- Desligar todas as notificações, excepto de pessoas reais (p.e. permitir apenas notificações de aplicações de chat como o WhatsApp e o FB Messenger.);
- Carregar o telemóvel fora do quarto (e comprar um despertador em separado);
- Apagar todas as redes sociais do telemóvel (especialmente nas férias). No caso do trabalho, hoje em dia já conseguimos fazer tudo através do desktop, especialmente com ferramentas de gestão de redes sociais.
- Enviar mensagens de áudio ou telefonar, em vez de enviar mensagens escritas (é mais rápido, menos stressante e evita más interpretações das mensagens de texto).
- Definir limites de utilização de redes sociais por dia e não verificar feeds de trabalho (a não ser em caso de emergência) depois da hora de saída.
- Estruturar o trabalho, em torno de atividades específicas. Por exemplo, defina 1 hora por dia para publicar conteúdos e dar respostas a fãs. Estruturar o tempo vai ajudá-lo a ser mais eficiente e a manter o foco.
- Descansar os olhos. Sabia que bastam 2 horas em frente de um monitor para os olhos começarem a sofrer “fadiga ocular digital”? Isso leva a problemas como olhos secos e irritados, dor no pescoço, costas e cabeça.
- Levantar e mexer. Estudos mostram que é melhor para a saúde mental e física se nos levantarmos a cada meia hora. Por isso, levante-se e vá até à cozinha tomar um café ou preparar um chá. Saia da secretária e mexa-se para se alongar. Dê a volta ao quarteirão – especialmente se estiver a lidar com clientes particularmente difíceis e sensíveis nas redes sociais.
- Durma, pelo menos, 6 horas por dia. Menos do que isso, pode levar a problemas sérios de saúde. Abandone o telemóvel e computador, pelo menos, meia hora antes de dormir e tente deitar-se sempre à mesma hora.
- Desintoxicação digital. Reserve algum tempo (mais do que uma noite) livre de todos os seus dispositivos. Faça desporto, dê uma caminhada, vá até à praia ou leia um livro.
Esta aula foi uma aula provocativa para os meus alunos (e para mim). Não espero que já ter efeitos de longo prazo sobre o comportamento deles face à utilização do telemóvel e das redes sociais, mas espero ter conseguido com que ganhem alguma consciência do quão essas tecnologias os absorvem.